Volta ao mundo da Classe 40

Próxima parada,

Auckland

Por Roberto Negraes

Dupla Craig Horsfield e Oliver Bond vence segunda etapa da Globe 40

Com uma dose de emoção, chegou ao fim a segunda etapa (Cabo Verde – Ilha Maurício) da regata de volta ao mundo em equipes Globe 40, disputada a bordo de veleiros Classe 40. A primeira semana após a largada em Mindelo envolveu um rápido deslocamento em direção à costa africana, em busca de ventos alísios de SE.

Já a segunda seção em direção ao Atlântico Sul consolidou uma navegação aparentemente interminável, de quase duas semanas, com uma breve passagem pela região de calmarias (doldrums) perto da linha do equador. Seguiu-se um trecho bastante tranquilo de boas velejadas, com média de ventos de 15 nós e temperaturas amenas ao largo do Brasil.

Nos últimos dias antes de alcançarem a costa da África do Sul, os skippers lançaram-se para a terceira fase desta etapa épica — a distância total para esta perna é o equivalente a duas competições transatlânticas consecutivas como a Route du Rhum! — tendo gradualmente conquistado terreno para leste, contornando a alta pressão de Santa Helena, para então seguirem em direção ao Cabo da Boa Esperança — uma navegação de mais 1.500 milhas, realizada com ventos favoráveis.

A competição foi intensa, com um duelo memorável entre a dupla nipo-italiana Masa Suzuki e Andrea Fantini, do barco Milai (vencedor da primeira etapa), e Craig Horsfield (EUA) e Oliver Bond (Reino Unido), do AMHAS, com vantagem para o Milai. Depois de 3.600 milhas de corrida, apenas 20 milhas separavam esses veleiros.

Atrás deles, o canadense Whiskey Jack e o americano Gryphon Solo II estavam igualmente envolvidos em disputa renhida. De fato, a proximidade entre os barcos, de apenas 6 milhas de distância durante uma noite, significava que podiam falar um com o outro via VHF.

Enquanto isto, o holandês Sec Hayai permanecia em uma posição intermediária entre os dois grupos, à espera de um cenário climático favorável, que lhe permitisse alcançar novamente o líder da flotilha.

No entanto, tudo mudou com a difícil tarefa de superar o Cabo da Boa Esperança. E o Milai, que liderava, sofreu avarias e seu comandante tomou a difícil decisão de parar na Cidade do Cabo para reparos. Com isto, o AMHAS encontrou o caminho livre, pois também o Gryphon Solo II foi obrigado a uma escala técnica na África do Sul.

Após 35 dias, 10 horas, 42 minutos e 42 segundos de corrida, o AMHAS cruzou a linha de chegada nas Ilhas Maurício, vencendo a mais longa etapa da volta ao mundo Globe 40. A tripulação anglo-americana chegou ao amanhecer. Navegando de Cabo Verde, no Atlântico Norte, ao Oceano Índico, o AMHAS realizou uma travessia épica ao longo das teóricas 7.667 milhas marítimas (14.200 km) do percurso.

Craig Horsfield e Oliver Bond, a dupla a bordo do AMHAS, contaram em conjunto: “Foi uma viagem cansativa, mais longa do que imaginávamos. ‘Quebramos’ esta etapa estrategicamente em quatro partes. O primeiro trecho foi a passagem curta e rápida entre as ilhas de Cabo Verde. Ao longo do segundo trecho, Atlântico Sul e anticiclone de Santa Helena, foi necessária uma análise aprofundada para negociar esta travessia complicada. A terceira parte, que nos levou ao contorno da África do Sul, foi fisicamente difícil, porque encontramos trechos de mar agitado e temperaturas muito frias. Já a seção final no Oceano Índico, pensávamos que seria a parte mais fácil, mas na verdade foi a mais difícil de todas”.

“No litoral do Brasil, prestes a virar para leste em direção à Cidade do Cabo, conseguimos ficar entre os primeiros colocados. O plano era ir para o sul sem incidentes e nos lançar em alta velocidade pelo Oceano Índico. Aceleramos um pouco mais que o planejado no sul, enquanto lutávamos com o Milai. Já na liderança, gerenciamos nossa corrida alterando os planos de preservar o barco. Em duas ocasiões, trocamos de opção para marcar um concorrente, perdendo meio dia para nos colocar em uma posição que impedia que nos ultrapassassem. Teria sido mais rápido nos afastar para o leste, mas se houvesse algum problema, poderiam tirar-nos a vitória”, explicaram os vencedores da segunda perna da Globe 40.

Eles também destacaram a excelente camaradagem entre os competidores. “Um dos destaques até agora foi a ótima comunicação, principalmente entre o Masa (Milai) e a Mélodie Schaffer (Whiskey Jack), enquanto tentavam resolver seus problemas técnicos. Todos davam dicas. Adoramos ajudar uns aos outros. Se surgir um problema, se alguém quebrar alguma coisa, todo mundo sente muito por quem sofreu o problema.”

O barco marroquino IBN Battouta Tribute abandonou, e o francês The Globe en Solitaire nem chegou a largar de Cabo Verde, por graves avarias no barco. Todos os demais já estão em Maurício. A largada da terceira etapa, rumo a Auckland, será no dia 11 de setembro.

Resultados da Globe 40

Primeira etapa (Lorient, França – Tânger, Marrocos)

1º - Milai - Masa Suzuki (Japão) / Andrea Fantini (Itália)

2º - Sec Hayai - Frans Budel / Ysbrand Endt (Holanda)

3º - AMHAS - Craig Horsfield (EUA) / Oliver Bond (Reino Unido)

4º - IBN Battouta Tribute 2022 - Simon Boussikouk / Omar Bensenddik (Marrocos)

5º - Gryphon Solo II - Joe Harris (EUA) / Roger Junet (EUA / Itália)

6º - Whiskey Jack - Mélodie Schaffer (Canadá) / Mikael Ryking (Suécia)

Abandonou - The Globe en Solidaire - Éric Grosclaude / Léo Grosclaude (França)

Segunda etapa (Mindelo, Cabo Verde – Maurício):

1º - AMHAS

2º - Sec Hayai

3º - Whiskey Jack

4º - Milai

5º - Gyphon Solo

Abandonou - IBN Battouta Tribute 2022

Não largou - The Globe en Solidaire

Roberto Negraes