Rumo a Lorient

Largada da oitava e última etapa da regata de volta ao mundo da Classe 40 em Granada, no Caribe, com destino a Lorient (França). Foto: Globe40

Globe 40

Em ritmo de final

Por Roberto Negraes

Começou em Granada a última etapa da Globe 40, com destino à França

No último dia 13 de fevereiro às 22h09, horário local na ilha Granada (Caribe), a tripulação canadense do Whiskey Jack cruzou a linha de chegada vencendo a sétima etapa da Globe 40 2022-23. Uma vitória merecida nesta etapa de 2.123 milhas percorridas em 8 dias e 8 horas a uma velocidade média de 10,6 nós. Com isso, até o recorde de singradura (distância percorrida em 24 horas percorridas) foi quebrado nesta ocasião, com o Whiskey Jack superando 347 milhas (642,6 km) a uma velocidade média de 14,5 nós (26,8 km/h). Um grande reconhecimento para a capitã canadense Mélodie Schaffer, que mostrou toda a sua capacidade, depois de sofrer muito com avarias nas etapas anteriores, que deixaram seu barco entre os últimos colocados.

Os holandeses, do veleiro Sec Hayai, chegaram na mesma noite, assim como os americanos do Ahmas. A classificação geral deverá manter-se praticamente inalterada, e a última etapa transatlântica, até Lorient (França), deve decidir o destino dos dois líderes da classificação geral e únicos com pontuação suficiente para alcançar a vitória na Globe 40.

Como foi a perna Recife – Granada

No domingo, dia 6 de fevereiro, os quatro veleiros remanescentes da Globe 40 deixaram sua base durante a escala brasileira (a novíssima Marina do Recife) e foram até o ponto de largada, junto à famosa Praça do Marco Zero, no centro histórico do Recife, então preparado com telões para o carnaval. Ali, iniciaram a sétima e penúltima etapa, uma das pernas mais curtas (apenas 2 mil milhas, ou 3,7 mil km) da Globe 40, até a ilha de Granada, no Caribe, e foram levados ao seu destino pelos sempre favoráveis ventos alísios de leste.

Na teoria, uma etapa bastante simples, mas também uma competição acirrada, com condições ideais de ventos iguais para todos os participantes. Saindo de Recife, apenas três pontos separavam os dois primeiros barcos no ranking geral: o Sec Hayai e o Amhas (vencedor da etapa anterior). Enquanto isso, a equipe japonesa Milai Around The World está fazendo um esforço concentrado para concluir os reparos na Argentina e completar a Globe 40, mesmo com grande atraso sob os demais.

A etapa se estendeu por toda a costa nordeste-norte do Brasil, desde Recife até o Rio Oiapoque (Amapá), passando pelo Rio Amazonas, e ainda a Guiana Francesa, o Suriname, a Guiana, a Venezuela e, finalmente, as ilhas de Trinidad e Tobago. Uma zona proibida foi estabelecida em todo o percurso nas proximidades de terra, impossibilitando os competidores de irem muito perto da costa, devido à abundância de detritos arrastados pelo rio Amazonas e consequente risco de segurança.

A partir da largada em Recife, as equipes tiveram que fazer escolhas táticas rapidamente, jogando contra o vento como o Ahmas; ou com a Corrente do Brasil como o Sec Hayai. Durante vários dias, os resultados das diferentes táticas foram indefinidos, com cada um a ocupar diferentes lugares no ranking, então obviamente o percurso mais ao largo, ao longo da zona de exclusão, revelou-se a escolha certa pelo Sec Hayai, que beneficiou-se de uma forte correnteza.

O barco holandês dominou por vários dias. Entretanto, o Whiskey Jack gradualmente o alcançou e ultrapassou, assumindo logo uma vantagem de 50 milhas (92,5 km) sobre seu competidor direto, e ainda quebou o recorde de singradura no evento. Um grande sucesso para a skipper Mélodie Schaffer, tendo como tripulante, nesta etapa, Tom Pierce, canadense como ela.

Em várias ocasiões nas etapas anteriores, Mélodie teve o desempenho prejudicado por várias avarias. Isso porque houve várias rupturas nas velas (entre Cabo Verde e Maurício); uma capotada catastrófica na ilha de Amsterdã, nas Terras Austrais e Antárticas Francesas; e até mesmo a quebra do gurupés apenas uma semana após a largada de Papeete, quando o Whiskey Jack estava no grupo dianteiro.

Velejadora de longa data e faminta por milhas, tendo participado de várias etapas da popular Clipper Round The World, três regatas transatlânticas (incluindo a Jacques Vabre, em 2021/2022) e mais 25 mil milhas navegadas desde junho na Globe 40, Mélodie demonstra experiência e determinação, finalmente destacada pela vitória nesta sétima etapa. E vale lembrar que ela e Tom tiveram apenas cinco dias para descansar em Recife depois dos 3.800 km da difícil perna de Ushuaia a Recife

Os quatro veleiros atualmente na disputa da Globe 40 iniciaram a última etapa da regata, rumo à França, na sexta-feira, dia 24 de fevereiro.

Quem vencerá a Globe 40?

As sete etapas anteriores desta Globe 40 tiveram o prólogo em Lorient e um grande início em Tânger (Marrocos). Até a caribenha Granada, contaram-se 25 mil milhas (46,3 mil km) navegadas, e permanece a dúvida sobre quem será o grande vencedor.

O Milai está sem chance — mas promete continuar na regata até Lorient — devido ao choque com um ófni (objeto flutuante não identificado), ocorrido na sexta etapa, ao largo da costa argentina. O barco japonês, que então liderava com folga a etapa Ushuaia – Recife, depois de vencer três das cinco etapas anteriores, continua com trabalhos de reparos em Mar del Plata. O Milai ainda aparece com uma boa pontuação, mas não pode mais chegar à vitória na classificação geral.

O Sec Hayai tem mostrado uma regularidade significativa, com uma equipe extremamente bem preparada e motivada, mantendo-se na liderança da classificação geral. Porém, seu concorrente Amhas deve continua sendo uma séria ameaça na última etapa, que tem coeficiente 2 (vale mais no sistema de pontos). Esta etapa tem um longo percurso transatlântico até Lorient, e sem dúvida pode ser complicado nesta época do ano (fim do verão no hemisfério norte, quando começam fortes tempestades ao largo da Europa).

Por fim, os ítalo-americanos do Gryphon Solo 2 (terceiro lugar em Recife) e os canadenses do Whiskey Jack (vitória em Granada) mostraram que ainda serão capazes de atrapalhar a classificação dos líderes. Será uma final emocionante, digna desta grande competição de volta ao mundo inédita para veleiros Classe 40.

Em decorrência da colisão com o ófni, o Milai (44 pontos), foi bastante prejudicado, como informou o seu capitão, o japonês Masa Suzuki: “Os danos foram maiores do que poderíamos imaginar. O Milai ainda está a caminho de completar a circum-navegação do globo. Não vamos desistir e mal podemos esperar para rever a todos novamente em Lorient”. Contudo, graças às suas três vitórias, o Milai juntou pontos suficientes para garantir seu lugar no pódio da Globe 40, aconteça o que acontecer. Após os reparos em Mar del Plata, o Milai retoma a regata, com o japonês Masa Suzuki acompanhado do italiano Andrea Fantini, que, nos Açores, dará lugar ao também japonês Koji Nakagawa.

O que diz a mensagem na rede social do Milai: “Após cerca de 6 semanas de reparos, estamos de volta ao mar!! Obrigado a todos pela ajuda e apoio. Aproximadamente 6.000 milhas para a França para completar a Globe40! Mudando o plano original, o Milai vai apontar para a França via Ilhas dos Açores. Obrigado pelo vosso apoio contínuo!!

Classificação geral na Globe 40 após sete etapas

1º - Sec Hayai (Franz Budel e Endt Ysbrand/Holanda) - 29 pontos

2º - Amhas (Craig Horsfield e Davis Micah; e outros tripulantes eventuais/EUA) - 33 pontos

3º - Milai (Masa Suzuki e Koji Nakagawa; e outros tripulantes eventuais/Japão) - 44 pontos

4º - Gryphon Solo 2 (Joseph Harris e Roger Junet/EUA) - 62 pontos

5º - Whiskey Jack (Mélodie Schaffer e Mikael Ryking; e outros tripulantes eventuais/Canadá) - 64 pontos

Abandonaram: IBN Battoouta Tribute 2022 (Marrocos) e The Globe en Solidaire (França).