Rota do Rum – Final

O maxitrimarã Edmond de Rothschild, primeiro barco a completar o percurso da Route du Rhum 2022. Foto: © Vincent Olivaud - RDR2022

A grande disputa

transatlântica

Vitórias, encalhes e naufrágio na edição de 2022 da celebrada regata Route du Rhum

Na madrugada de 16 de novembro passado, a pacata ilha de Guadalupe, no Caribe, ficou em festa com o início da chegada dos competidores da concorrida regata transatlântica Route du Rhum (Rota do Rum) — os maxitrimarãs da classe Ultim. O primeiro a chegar ao porto de Pointe à Pitre — tornando-se assim o fita azul da regata e vencedor na sua classe — foi o skipper francês Charles Caudrelier, com seu Maxi Edmond de Rothschild (equipe Gitana).

O Maxi Edmond de Rothschild também bateu o recorde para o percurso das 3.542 milhas marítimas, com 6 dias, 19 horas, 47 minutos e 25 segundos. O recorde anterior, pertencente a Francis Joyon, foi superado por 18 horas e 34 minutos! A chegada dos Ultim foi fantástica, com os maxitrimarãs Edmond de Rothschild e o SVR Lazartigue numa disputa acirrada a mais de 30 nós, graças aos constantes alísios do Caribe.

Após atracar, Caudrelier desabafou emocionado: “De tanta alegria, nem sinto cansaço. Eu queria tanto ganhar a corrida pela equipe! Sonho com isto desde jovem. Dedico a vitória ao Franck Cammas (o skipper titular da equipe Gitana), pois eu não estaria aqui sem ele permitindo que competisse em seu lugar. Recentemente, perdi minha mãe, e infelizmente ela não está aqui para compartilhar este momento. Obrigado a todos por acreditarem em mim”.

O segundo colocado, François Gabart (SVR Lazartigue), cruzou a linha de chegada em 6 dias, 23 horas, 3 minutos e 15 segundos. Sua diferença para o vencedor foi de 3 horas, 15 minutos e 50 segundos.

O terceiro colocado entre os Ultim foi Thomas Coville (Sodebo 3), veterano nesta tradicional regata, com cinco participações e um histórico de vencedor na classe Imoca (em 1998) e seguidos terceiros lugares na classe Ultim (em 2006, 2010, 2018 e também agora em 2022). Ou seja, Thomas Coville subiu ao pódio em todas as suas participações.

Um destaque entre os Ultim foi a esportividade de Armel Le Cléac’h (Banque Populaire), cujo trimarã, que vinha disputando a liderança com Charles Caudrelier, sofreu danos no casco sem causa aparente e foi obrigado a retornar. Com mil milhas de atraso para os demais, Le Cléac’h partiu novamente, terminando no sétimo e último lugar. Outro skipper da classe Ultim, Romain Pilliard, abandonou após seu barco (Use It Again) ser atropelado, à noite, por um navio mercante! O trimarã perdeu o mastro, entre outros danos, mas o skipper nada sofreu.

Os Ocean Fifty

Os trimarãs da classe Ocean Fifty (50 pés) começaram a chegar no dia 20 de novembro, quatro dias depois dos Ultim. O vencedor entre eles foi Erwan Le Roux (Koesio), com o tempo de 11 dias, 3 horas, 37 minutos e 37 segundos, seguido de Quentin Vlamynck (Arkema). Este último esteve na liderança na maior parte da regata, mas acabou superado por Le Roux ao final. E fechando o pódio, tivemos Sébastien Rogues (Primonial).

Os Imoca

A classe mais aguardada e preferida pelo público é a Imoca. Por isto, foi uma grande festa quando estes velozes monocascos começaram a chegar.

O vencedor foi Thomas Ruyant (Linked Out), superando o grande favorito Charles Dalin (Apivia), que vinha dominando as últimas regatas da categoria. Ele chegou durante a madrugada em Point-à-Pitre, às 2h51 (hora local). E, assim, venceu pela primeira vez em sua carreira a legendária Rota do Rum, na classe Imoca.

Com “faca nos dentes”, muita determinação e vontade, Ruyant lutou como um guerreiro para superar Dalin, que liderava, largando com facilidade e abrindo até 90 milhas de seus adversários na passagem pelos Açores.

O Linked Out completou o percurso entre Saint-Malo (França) e a ilha de Guadalupe em 11 dias, 17 horas, 36 minutos e 25 segundos, novo recorde dos Imoca para a Route du Rhum, superando a marca anterior (12 dias, 4 horas e 38 minutos), obtida por François Gabart, em 2014. Thomas Ruyant cobriu a rota transatlântica à média de 15,49 nós. Quando aportou em Pointe-à-Pitre, ele declarou: “Fiz de tudo superar o Apivia. Sabíamos desde o início que, com 38 veleiros Imoca competindo, o final seria apertado. Estou muito feliz de ter participado desta batalha!”.

Programados para ser substituídos em breve por novos barcos, o Linked Out e o Apivia disputaram contra sete concorrentes recém-construídos, de última geração (Charal, Holcim-PRB, Initiatives-Cœur, Malizia-SeaExplorer, V e B – Monbana Mayenne, Maître CoQ e Biotherm). Jérémie Beyou, com o Charal, ficou em terceiro lugar.

Os Classe 40

Na disputada Class 40 teve 53 veleiros participantes nesta Route du Rhum. Nos dois primeiros dias, o francês Corentin Douguet (Queguiner-Innoveo) começou a destacar-se, assumindo a liderança da flotilha, seguido por nada menos que 11 barcos num raio de 20 milhas. Como esperado, houve muito equilíbrio nesta classe.

Alguns skippers optaram inicialmente por uma rota norte. Marc Lepesqueux (Curium Life Forward) chegou a liderar, mas acabou mudando sua rota para sul, deixando o italiano Ambrogio Beccaria (Alla Grande-Pirelli) sozinho em uma opção oeste.

Com isso, Douguet retomou e destacou-se na dianteira, mas foi ultrapassado pelo francês Yoann Richomme (Paprec-Arkéa) e por Beccaria. Os três estiveram em grande luta pela vitória durante toda a regata.

Mesmo recebendo uma penalidade de quatro horas por problemas na largada, o campeão foi Richomme, que juntou-se ao grupo de elite da vela oceânica em solitário por vencer pela segunda vez seguida a Route du Rhum na Classe 40 (venceu também na edição de 2018). “Estou muito orgulhoso,” comemorou o velejador: “Há tantos detalhes a considerar para vencer esta corrida. Passei meu tempo analisando o clima e tivemos alguns sistemas de baixa violentos. Eu estava com medo o tempo todo que meu barco pudesse sofrer uma quebra.”

Como foi a Route du Rhum 2022

Ansiosamente aguardada pelo mundo da vela offshore, a Route du Rhum de 2022 deveria ter começado no dia 6 de novembro. Entretanto, foi adiada para o dia 9. O motivo? Forte tempestade com ventos contrários de até 50 nós (92 km/h)!

 As primeiras baixas ocorreram a partir da própria largada! O skipper inglês Sam Goodchild, do Leyton, um Ocean Fifty, acidentou-se a bordo e abandonou a disputa. Vários outros abandonos se sucederam.

O australiano Rupert Henry abandonou depois de seu barco (o Classe 40 Eora) sofrer danos estruturais no casco. Depois, mais de dez veleiros dessa classe abandonaram.

Entre os veleiros Imoca, o Bureau Vallée (do francês Louis Burton, um favorito) e o DMG Mori Global One (do japonês Kojiro Shiraishi) perderam o mastro — recém-construídos, ambos os barcos são dos mais modernos da classe Imoca.

O maior desastre entre os Imoca, no entanto, aconteceu com o barco do italiano Fabrice Amedeo (Nexans Art & Fenêtres), que, inexplicavelmente depois de sofrer danos no casco, explodiu, pegou fogo e naufragou em minutos. Alertado pela organização da regata, o sistema de salvamento contatou as embarcações nas imediações do acidente. Amedeo, que abandonara o barco a tempo, foi resgatado pelo cargueiro M/V Maersk Brida.

Já o trimarã Interaction (categoria Rhum Multi), do francês Erwan Thibouméry, buscando abrigo no litoral da Espanha com danos no casco e no mastro, sofreu falha também no motor. Com isto, ficou à deriva, sendo empurrado por ventos fortes e grandes ondas contra os rochedos. O skipper conseguiu ser resgatado antes do encalhe.

O acidente mais lamentável aconteceu em Guadalupe, envolvendo um barco de apoio da regata, com a morte de dois dos onze tripulantes.

Classificação final na Route du Rhum 2022 (até o 10º lugar)

Ultim

1. Charles Caudrelier (Maxi Edmond de Rothschild, França)

2. François Gabart (SVR-Lazartigue, França)

3. Thomas Coville (Sodebo Ultim 3, França)

4. Francis Joyon (Idec Sport, França)

5. Yves Le Blevec (Actual Ultim 3, França)

6. Arthur Le Vaillant (Mieux, França)

7. Armel Le Cléac’h (Maxi Banque Populaire XI, França)

8. Romain Pilliard (Use It Again! By Extia, França)

Ocean Fifty

1. Erwan Le Roux (Koesio, França)

2. Quentin Vlamynck (Arkema, França)

3. Sébastien Rogues (Primonial, França)

4. Eric Peron (Komilfo, França)

5. Armel Tripon (Les P’tits Doudous, França)

6. Gilles Lamiré (Groupe GCA-1001 Sourires, França)

Imoca

1. Thomas Ruyant (Linked Out, França)

2. Charlie Dalin (Apivia, França)

3. Jérémie Beyou (Charal, França)

4. Kevin Escoffier (Holcim-PRB, França)

5. Maxime Sorel (V and B-Monbana-Mayenne, França)

6. Paul Meilhat (Biotherm, França)

7. Justine Mettraux (teamwork.net, Suíça)

8. Benjamin Dutreux (Guyot environnement-Water Family, França)

9. Isabelle Joschke (MACSF, Alemanha/França)

10. Romain Attanasio (Fortinet-Best Western, França)

Classe 40

1. Yoann Richomme (Paprec Arkéa, França)

2. Ambrogio Beccaria (Allagrande Pirelli, França)

3. Corentin Douguet (Queguiner-Innoveo, França)

4. Simon Koster (Banque du Leman, Suíça)

5. Antoine Carpentier (Redman, França)

6. Xavier Macaire (Groupe SNEF, França)

7. Luke Berry (Lamotte-Module Création, França)

8. Alberto Bona (IBSA Group, Itália)

9. Martin Le Pape (Fondation Stargardt, França)

10. Axel Tréhin (Project Rescue Ocean, França)

Rhum Multi

1. Loïc Escoffier (Lodigroup, França)

2. Roland Jourdain (We Explore, França)

3. Marc Guillemot (Metarom MG5, França)

4. Halvard Mabire (GDD, França)

5. Gwen Chapalain (Guyader-Savéol, França)

6. Fabrice Payen (Ille et Vilaine Cap Vers l’Inclusion, França)

7. Phillippe Poupon (Flo, França)

8. Etienne Hochede (Pir2, França)

9. Charlie Capelle (Acapella-La chaine de l’espoir, França)

10. Christophe Bogrand (Chateau du Launay, França)

Rhum Mono

1. Jean-Pierre Dick (Notre Mediterranée-Ville de Nice, França)

2. Catherine Chabaud (Formatives ESI Business School pour Ocean as Common, França)

3. Wilfrid Clerton (Cap au Cap Location, França)

4. Willy Bissainte (Tradisyon Gwadloup, França)

5. Gilles Colubi (Kornog 2, França)

6. Olivier Nemsguern (Elora, França)

7. Arnaud Pennarun (Viabilis-Pen Duick III & Ach Pour Les Enfants de Robert Debré, França)

8. Daniel Ecalard (SOS Parebrise Plus, França)

9. Jean-Sébastien Biard (JSB Déménagements, França)

Roberto Negraes