Meteorologia e ventos

Previsão dos ventos pelos satélites da NOAA, configurados pelo site Zygrib

Previsão dos ventos pelos satélites da NOAA, configurados pelo site Zygrib

Tirando proveito dos ventos

Por Roberto Negraes*

Decifrar os dados meteorológicos é crucial tanto nas regatas reais quanto nas virtuais

As grandes competições a vela oceânicas como a Vendée Globe, Troféu Júlio Verne e muitas outras, oferecem aos comandantes das embarcações um desafio idêntico tanto no mundo real quanto em suas versões virtuais (o que explica a participação de muitos velejadores reais nas regatas virtuais). Trata-se de entender os ventos e escolher a melhor rota para levar vantagem sobre os demais competidores.

De fato, um velejador em seu barco virtual se defronta com o mesmo problema, como decifrar as condições meteorológicas. Pois tanto nas regatas reais como nas virtuais, os dados previstos chegam via satélites da NOAA (National Oceanic and Atmospheric Agency, dos Estados Unidos). Adiante, explicarei melhor.

A incerteza nas previsões

Se existe uma ciência que o ser humano ainda não conseguiu estabelecer com precisão é a meteorologia. Pois as condições meteorológicas, ou seja, os sistemas de baixa e alta pressão, seus deslocamentos e forças dos ventos que os acompanham, lembram a teoria do caos, aquela que diz que o bater de asas de uma borboleta pode causar um furacão a milhares de quilômetros de distância.

E isso não é folclore. Em 1960, a natureza caótica da atmosfera foi observada pela primeira vez e matematicamente descrita por Edward Lorenz, o mesmo matemático fundador da Teoria do Caos. Este avanço levou as previsões, na maioria dos grandes centros de previsão, a considerar a incerteza decorrente da natureza caótica da atmosfera.

Esta incerteza nas previsões, contudo, é o que torna as regatas oceânicas extremamente interessantes. Se a meteorologia fosse uma ciência exata, todos os veleiros iriam navegar por uma mesma rota. E as regatas terminariam empatadas! Mas claro que não é assim. E o grande desafio dos skippers dos veleiros numa regata, seja real ou virtual, é interpretar e rumar seu barco para onde acreditam encontrar os melhores resultados.

Como funcionam as previsões no mar

A mesma previsão anterior, mas limitada à área de interesse

A mesma previsão anterior, mas limitada à área de interesse

Como citado acima, os navegadores utilizam as previsões da agência americana NOAA, que são as mais confiáveis do momento e cobrem todo o planeta. Mas como acessá-las? Ocorre que a NOAA disponibiliza as previsões a cada seis horas, diretamente pela Internet, em tempo real, ou seja, assim que chegam as medições das condições atmosféricas e são interpostos modelos matemáticos meteorológicos para análise da evolução dessas condições.

Para consegui-las, você pode acessar diretamente o site da NOAA, ou muito melhor, buscá-las em sites especializados nisso, que organizam as informações cruas em apresentações gráficas, com cores representando as áreas de ventos mais fortes e fracos, e assim por diante. Esses arquivos são denominados GRIBs. Existem vários sites com esse serviço, mas vou aqui utilizar o que considero um dos melhores, o Zygrib (www.zygrib.org). 

As previsões em arquivos GRIB

Os dados completos aparecem numa pequena janela. Basta colocar o mouse sobre qualquer ponto da previsão para obter todas as informações. No caso vemos, por exemplo, que onde coloquei o mouse os ventos são de 38,8 nós com rajadas de até 46,3 nós

Os dados completos aparecem numa pequena janela. Basta colocar o mouse sobre qualquer ponto da previsão para obter todas as informações. No caso vemos, por exemplo, que onde coloquei o mouse os ventos são de 38,8 nós com rajadas de até 46,3 nós

Basta baixar o arquivo GRIB diretamente. O uso é muito simples. Basta selecionar uma área do mapa múndi (já incluído no software) e clicar em baixar (download). Normalmente, a previsão vem com dez dias de duração. Alguns sites oferecem previsões de até 16 dias (o padrão da NOAA). Contudo, eu pessoalmente gosto de trabalhar com seis a sete dias. Além disso, as tais borboletas caóticas podem bater asas e causar surpresas, mesmo em previsões curtas, imaginem em datas mais afastadas.

Com estas previsões, que podem ser visualizadas tanto estática como dinamicamente como se fosse um vídeo mostrando a evolução dos centros de alta e baixa pressão, o navegador a bordo de um veleiro de regata real, bem como o virtual, podem escolher o rumo de seus barcos. Mas eu nem sempre sigo o que parece o melhor. O instinto e a experiência contam muito na hora de escolher em qual bater de asa de borboleta acreditar.

Para terminar, os reis dos ventos são os centros de baixa e alta pressão. A dinâmica entre eles é que determina onde irá ventar forte ou fraco, para onde se dirigirão as tempestades e furacões — ou mesmo as calmarias. Importante notar que os centros de alta pressão têm rotação de ventos no sentido horário no hemisfério Sul e anti-horário no hemisfério Norte. Enquanto os centros de baixa pressão fazem o inverso, giram no sentido horário no hemisfério Sul e anti-horário no hemisfério Norte.


Nosso velejador virtual

 
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Foto: Arquivo pessoal

*Roberto Negraes é jornalista especializado em náutica e navegação, um dos pioneiros do setor. Em sua primeira participação numa regata virtual, conseguiu um 8º lugar numa das etapas da Volvo Ocean Race de 2008-09. Depois disso, passou a praticar e tornou-se o melhor brasileiro e participante do continente americano durante anos, vencendo etapas de regatas internacionais como a Velux Five Oceans em 2010, vencendo na categoria SO (sem equipamentos extras) uma Solitaire du Figaro, 2º lugar na Cap-Istambul de 2010, e terminando entre os Top 10 em 16 grandes eventos internacionais. Na Volvo Ocean Race de 2011-12, esteve em 2º lugar até a sexta etapa, infelizmente não deu sorte nas duas últimas pernas e finalizou em 5º lugar entre 330 mil participantes de 184 países. Depois disso, parou de competir desde 2012, mas retornou agora às regatas virtuais, participando inicialmente de regatas como testes, para adaptar-se (a tecnologia desenvolveu-se muito nos últimos anos).