Chase boats

E cresceram

os botes!

Supernova: superbarco de apoio para um superiate, da holandesa Wajer

Supernova: superbarco de apoio para um superiate, da holandesa Wajer

Todo barco um pouco maior, a partir de 30 pés, passa a demandar o auxílio de um bote, geralmente inflável. Várias categorias de embarcações de apoio surgiram para atender à necessidade das pessoas, ao mercado e até ao luxo desmedido.

Antigamente, os botes eram utilizados de forma bastante extensiva. Levavam e traziam tripulantes e passageiros, transportavam peças, ferramentas e utensílios de bordo para terra e vice-versa, porém, sofriam uma restrição: o tamanho do “barco-mãe” onde seria estivado. Por isso, inicialmente, eram bem pequenos, leves e muitas vezes movidos a remos ou pequenos motores. Para içá-los a bordo, utilizavam-se turcos fixos e cabos com sistema de moitões. Com o tempo, passou-se a utilizar turcos eletro-hidráulicos e até plataformas basculantes, mas o comprimento desses sempre foi obrigatoriamente menor que a boca do barco-mãe. Já a potência aumentou e hoje encontram-se botes movidos a hidrojato e até mesmo avançados motores de popa elétricos.

Barco de apoio da americana Hodgdon para o iate de Steven Spielberg

Barco de apoio da americana Hodgdon para o iate de Steven Spielberg

   De uns tempos para cá, surgiram os chase boats, que, mais do que simples botes, passaram a ser verdadeiros barcos de apoio, pois são grandes demais para serem levados a bordo. O termo em inglês “chase” (correr atrás) surgiu na indústria naval de apoio à produção de petróleo. Estes barcos são, ainda hoje, utilizados pelos navios de pesquisa e plataformas para realizar serviços complementares, como “limpar” o caminho dos barcos de pesquisa geodésica, que são obrigados a seguir uma derrota pré-estipulada e não podem desviar de barcos de pesca ou quaisquer outros obstáculos. Os chase boats seguem à frente, avisando e retirando os empecilhos do caminho. Nas plataformas, utilizam-se os chase para retirar peças, lançar cordões de boias de contenção e, ainda, realizar a varredura ao redor, onde mergulhadores e mesmo equipamentos móveis como os ROVs (Remotely Operated Vehicles, ou veículos operados remotamente), sofrem a ameaça de linhas e anzóis de pesca posicionados por pescadores nessas áreas, que costumeiramente atraem peixes.

   No iatismo internacional, os chase boats surgiram na forma de pequenas lanchas ou não tão pequenas assim, acompanhando os barcos-mãe em suas viagens, utilizando cabos de reboque ou mesmo propulsão própria. Alguns anos atrás, este tipo de barco de apoio tornou-se uma verdadeira mania, e iates cruzavam do Caribe rumo à Flórida, pelas Bahamas, rebocando seu chase pra lá e pra cá, apesar da condenação das companhias de seguro, visto que muitos eram barcos para uso apenas em águas abrigadas, e não para realizar travessias. A tripulação é compartilhada pelos barcos, se não houver uma equipe só para o chase, apesar de ambas atenderem ao mesmo proprietário. Bastante comuns são os chase de mergulho ou pesca oceânica, que acompanham o barco-mãe nos passeios e permitem oferecer uma opção extra de diversão para os passageiros.

Desembarque do Supernova para a plataforma de popa do barco-mãe

Desembarque do Supernova para a plataforma de popa do barco-mãe

   Particularmente, como capitão de iate, tenho experiência em rebocar um bote de 26 pés pelo litoral brasileiro, tendo realizado mais de uma viagem de Angra à Bahia e outros portos do Nordeste, chegando mesmo a visitar Fernando de Noronha. Para que essa essa aventura fosse possível, nosso bote era equipado com dois motores de centro a diesel e uma bateria a mais para serviço, pois utilizávamos uma luz estroboscópica ligada dia e noite durante os períodos de reboque e ainda um transponder AIS banda B. Para o reboque, um cabo de fibra sintética (Spectra™) de alta resistência. Além disso, fizemos algumas pequenas modificações estruturais na proa do bote e na ventilação dos motores, que permitiram realizar essas travessias em segurança. A preocupação era constante: uma câmera de vigilância ficava com o foco no bote permanentemente, e quem estava no serviço de navegação mantinha um olho na proa e outro no barco que seguia em nossa esteira. Porém, devido ao reboque de quase três toneladas, o consumo do iate aumentou sensivelmente e havia uma perda de quase 10% de velocidade, além de ficarmos impedidos de soltar linhas de pesca durante as travessias, mas tudo isso valia a pena.

Modelo SR 52, da marca escandinava Windy

Modelo SR 52, da marca escandinava Windy

   O uso desse barco de apoio permitiu realizar confortáveis passeios com todos os nossos passageiros de uma só vez — o bote original não permitia mais do que três ou quatro pessoas mal-acomodadas. Por ter banheiro, cobertura, várias caixas térmicas, ducha, som, espaço de convivência e grande autonomia, permitia passar várias horas longe do barco-mãe, aumentando (em muito) a qualidade dos passeios. Outra vantagem era a possibilidade de realizar traslados mais distantes, como levar e trazer passageiros de Angra para Paraty, sem ter de deslocar o barco-mãe; ou realizar pequenas expedições em locais onde o calado não nos permitiria chegar em segurança, como Cachoeira, no alto do Rio Paraguaçu, na Bahia de Todos os Santos.

Limo Tender, da americana Hodgdon. Foto: Onne Van der Wal

Limo Tender, da americana Hodgdon. Foto: Onne Van der Wal

   Os chase, aqui chamados de barcos de apoio, são uma excelente ferramenta para aumentar o conforto e a qualidade dos passeios e do serviço de bordo, porém o custo de mais um barco, com uma vaga a mais em uma marina, equipamentos complexos e motores a serem revisados e abastecidos, um tripulante a mais ou um que ficará sobrecarregado atendendo a dois barcos, são questões que precisam da atenção de qualquer proprietário, antes de adotar esta ideia.

   Onde nem a imaginação nem o capital aparentemente têm limites, existem barcos de apoio especializados em desembarcar veículos em praias, como quadriciclos. Outros transportam plataformas de onde partem pequenos submarinos, outros toboáguas gigantes, cantos-gourmet flutuantes e até mesmo insólitas plataformas para jogar golf! Não bastassem todas estas excentricidades, um novo tipo de embarcação está sendo adotado pelos iates muito grandes, mas não o bastante para abrir mão de mais apoio, que são os chamados YSV (Yacht Support Vessels), dos quais falaremos numa próxima oportunidade.

 

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