Pesca fantasma

Redes perdidas e afins

Foto: Pietro Jeng/Unsplash

Foto: Pietro Jeng/Unsplash

Não chegou a hora de parar de sujar o mar?

 

Depois dos combustíveis, o plástico passou a chamar a atenção do mundo como grande poluidor do meio ambiente, especialmente no mar, e não apenas na forma de sacos e garrafas pet

 

Quem navega no mar já deve ter ouvido ao menos uma vez a história de alguém metido numa verdadeira enrascada por ter pego uma rede de pesca no hélice do motor do barco. Além de impedir que a propulsão funcione, se restar algum fio enrolado entre o hélice e a carcaça da rabeta do motor após a remoção da rede, há o risco de ocorrer um futuro vazamento de óleo e a consequente perda da rabeta. Por isso, redes de pesca sem sinalização são uma preocupação no meio náutico. No entanto, o que muita gente nem imagina é que os prejuízos causados por esse material podem se estender muito além do contratempo trazido aos donos de barcos. O problema é planetário e gigantesco.

O alerta foi dado pela Proteção Animal Mundial (World Animal Protection) e entidades ambientais parceiras: redes e outros equipamentos de pesca perdidos, abandonados ou descartados no mar, chamados de “petrechos fantasmas”, permanecem matando e mutilando milhões de animais marinhos. Um fenômeno pavoroso, ao qual se atribuiu o nome “pesca fantasma”. Segundo a Proteção Animal Mundial, “Os animais são quatro vezes mais propensos a sofrer impactos causados por equipamentos de pesca por emaranhamento do que por todas as outras formas de detritos marinhos combinados”, e a estimativa é de que o acúmulo de petrechos fantasmas nos oceanos esteja se dando a uma taxa de 800 mil toneladas/ano.


Fotos: Vikas Anand Dev, Alice Butenko, Gina Jie Sam Foek, Ingo Hamm/Unsplash

Fotos: Vikas Anand Dev, Alice Butenko, Gina Jie Sam Foek, Ingo Hamm/Unsplash

Cabos, redes, linhas de náilon, boias, atratores luminosos e isopor são encontrados, inclusive, em áreas de proteção ambiental. O relatório Maré Fantasma, elaborado pela Proteção Animal Mundial em colaboração com a ONU Meio Ambiente, Instituto Baleia Jubarte e WWF-Brasil, e distribuído no último Rio Boat Show, durante um evento promovido pela Volvo Penta para a divulgação da campanha Mares Limpos, dá conta de que “Anualmente, produção e importação representam uma entrada de 6.618,37 toneladas de novas redes de pesca no Brasil, que podem gerar mais de meia tonelada (aproximadamente 580 kg) de petrechos fantasmas por dia no país. Essa quantidade de petrechos fantasmas pode impactar mais de 69 mil animais marinhos por dia (25 milhões por ano)”. É ou não é assustador?

Esse mesmo relatório aponta que a, assim denominada, “pesca ilegal, não declarada e não regulamentada” (representada pela sigla, em inglês, IUU) é “altamente lucrativa, e as empresas envolvidas fazem tudo o que podem para evitar sua detecção ou captura, incluindo o abandono dos equipamentos de pesca utilizados”. Não há soluções fáceis, mas o relatório mostra alguns exemplos do que pode ser feito pelos governos, pela sociedade e pela indústria da pesca, além dos pescadores tradicionais e amadores para atacar o problema, tais como a implementação de políticas públicas para, por exemplo, a gestão responsável de resíduos e equipamentos de pesca fora de uso; fiscalização para combater a pesca fantasma; consumo consciente; adoção de logística reversa; utilização de materiais biodegradáveis e de “petrechos de pesca com as informações do proprietário, ou até mesmo a utilização de petrechos incorporados de sinalizadores do tipo GPS, que permitem identificar a localização do equipamento no mar”. Fácil, não é, mas o problema está posto e já passou da hora de ser combatido, para evitar um mal bem maior que um desagradável enrosco no hélice.

 

Saiba mais em: www.protecaoanimalmundial.org.br.

Marcio Dottori