Por dentro do eSailing

Alberto Brandão

e Gustavo Kunze

Estes dois experts das regatas virtuais contam sobre o eSailing no Brasil

Por Roberto Negraes

Para conhecermos melhor a estrutura do eSailing brasileiro e como são disputadas as regatas virtuais online, Roberto Negraes entrevistou dois dos expoentes no esporte e eventualmente organizadores dos eventos: Alberto Brandão (competidor de destaque e membro da Comissão de Regatas), e Gustavo Kunze (atual terceiro colocado no ranking Brasil), velejador de sucesso e com ótimo DNA na família, da qual faz parte sua prima, a bicampeã olímpica Kahena Kunze (parceira de Martine Grael).

Eu pediria a vocês uma apresentação pessoal, o papel que cumprem na Virtual Regatta Brasil. Podemos começar com você, Alberto?

Sou arquiteto e urbanista, velejador nas classes Dingue, Snipe, Star, Oceano, comecei a velejar recentemente. Sou mineiro, vim para o Rio de Janeiro para fazer faculdade e fiquei por aqui. Mineiro não tem essa cultura náutica, né? Em 2018, buscando uma nova atividade física, descobri a vela e me apaixonei.

Logo mergulhei de cabeça nessa brincadeira. E no momento que comecei a praticar a vela como esporte, me foi apresentado o jogo Virtual Regatta, um simulador de regata, ótimo para se aprender as regras, aprender a posicionar o barco em relação ao vento. O que se tornou uma diversão quando a gente não estava na água. Foi até o instrutor quem orientou: “Enquanto vocês não tiverem barco, vão divertindo na Virtual Regatta”. 

E foi assim que iniciei na prática da vela. No mundo real, comprei o primeiro barco e comecei a velejar na Barra da Tijuca (Flotilha Barra Vela). Lá, já praticavam a Virtual Regatta offshore. Eu preferia a inshore, sendo quase como um videogame.

Como sentiu esse início na eSailing?

Alberto – Você tem multijogadores ao mesmo tempo, disputando uma partida, é difícil. E também comecei a jogar as regatas offshore, que você também joga, né, Roberto? Então, é mais aquela coisa da tática, da navegação, do estudo dos ventos e são vários dias a gente se dedicando, sofrendo um pouquinho. Mas depois que pega, a gente fazia lá no Barravela até um campeonato paralelo. Participamos nas offshore como no todo, mas tem a disputa interna. Nas regatas inshore, o meu barco é o Bad Rabbit.

Kunze, sua vez, faz uma apresentação, por favor. Sei que você é fera!

Alberto – É, esse é professor.

Gustavo – Bom, venho de uma família de velejadores, meu pai velejava, meu tio veleja, meu avô velejava, meu avô foi comodoro do Yacht Club Santo Amaro, aqui em São Paulo. Comecei na classe Optimist com oito anos, depois passei a velejar de Laser. Com mais idade, passei a velejar de Star, sou proeiro e também participo bastante de oceano. Sou primo da Kahena Kunze, bicampeã olímpica. A Kahena é um pouco mais nova do que eu, ela veio numa geração depois. Tem a geração de meu irmão, dois anos mais velho, meu primo, eu e a Gabriela Biekarck, que é filha do Klaus Biekarck, ela também é minha prima.

Alberto - É bem diferente do meu caso, nunca tive DNA da vela, como bom mineiro!

Kunze – Mas depois que a gente saiu do Optimist, cada um na sua classe diferente. Eu já conhecia a Virtual Regatta offshore, nunca fui tão assíduo na offshore, normalmente corria uma, duas etapas e depois acabava parando. Acabei conhecendo a Virtual Regata inshore na época da pandemia, o que foi para nós uma salvação, já que os clubes estavam fechados. Não era possível velejar na real.

Foi quando o pessoal pegou o gosto pelo jogo?

Kunze – Pegou e foi um momento em que você reencontrava os amigos. Trabalhava durante o dia de home office e à noite a gente se encontrava online para correr regata. E no final começamos a abrir o Google Meet, e corríamos regatas conversando uns com os outros. Então, assim, ficávamos discutindo “Aquela dá direito de passagem!”, “Água!”, “Pô, dá para passar!”, “Dá para ir!”.

Isso falta nas regatas virtuais, a comunicação direta com o pessoal, não acham?

Alberto – A gente resolveu com o nosso grupo pelo Google Meet.

Kunze – E aí, com essa assiduidade, correndo as etapas, aprendendo mais sobre o jogo, acabei convidado para ser o presidente da Virtual Regatta inshore.

Como foi criada a Virtual Regatta inshore no Brasil?

Kunze – Aqui no Brasil, se eu não me engano — o Alberto pode me corrigir — tinha uma turma já estruturando as regatas, era o Alain Godoy, que hoje é do Yacht Club de Brasília; tinha o Alberto Albuquerque, o qual é da Comissão de Regata e também jogava; e o Gutemberg.

Essa turma pioneira montou um grupo de Whatsapp e começaram a chamar os velejadores conhecidos para o grupo. Assim, sempre que estava jogando e encontrava com alguém conhecido, convidava. Nós só demos continuidade ao que eles já faziam e acabamos ampliando a quantidade de jogadores. O grupo, quando entrei, estava com oitenta jogadores, hoje somos duzentos e vinte, uma coisa assim.

Alberto - É, esse grupo que jogava na época da pandemia usava o jogo mesmo como válvula de escape, né? Por não podermos estar na água, praticando o esporte real. Então, quando terminou a pandemia e com a reabertura dos clubes, as pessoas voltaram aos seus afazeres, começaram a não dispor de tempo para organizar as regatas, o que resultou numa diminuição do ritmo. Passamos a ter menos campeonatos. Anteriormente, sempre havia um campeonato por mês, mas com as atividades normalizadas, ficou complicado.

E como se resolveu isso?

Alberto – Eu, por exemplo, fiquei sendo um dos membros da organização das regatas. Hoje, já não sei nem quantos somos, a gente vai agregando novos jogadores, novos participantes e começamos a nos organizar melhor, montamos o site Brasil Virtual Regatta (http://virtualregattabrasil.com.br/) e fomentamos um campeonato nacional com regatas mensais. Para isso, organizamos um calendário para termos pelo menos uma regata por mês. E todas as semanas a gente fazia um treino para incentivar e melhorar a qualidade dos jogadores. Sabemos que lá fora os jogadores são de alto nível e os brasileiros estavam meio que iniciando. Então esse processo fomentou o jogo e nos reuníamos todo mês para fazer uma regata. E a coisa foi crescendo.

Kunze – Hoje, feras como Gabriel Solano, José Godinho, participam dos nossos treinamentos e sempre estão dando dicas para a turma.

Vocês então têm um grupo organizado como clube. E como se relacionam com a Virtual Regatta e o eSail da World Sailing (órgão máximo da vela mundial)? A organização de vocês é filiada à Confederação Brasileira de Vela – CBVela?

Kunze – A CBVela nos apoia desde o início, e temos etapas que recebem toda a atenção por eles, na figura do Waltinho (Walter Boddener). E assim o nosso grupo passou a ter a característica de um clube. A Virtual Regatta Brasil acabou sendo incluída na CBVela como classe: a classe Virtual Regatta. E a gente utiliza o site oficial da Virtual Regatta inshore como o aplicativo para a nossa classe virtual.

Então, como vocês organizam as regatas nacionais na Virtual Regatta inshore? Você entra no site oficial e lá já tem como organizar, personalizar regatas próprias para diferentes grupos e países? Como é que isso é feito?

Kunze – Criamos um campeonato, então precisamos de um evento. Abrimos no site da Virtual Regatta um formulário para os interessados fazerem a inscrição. De certa forma, a gente dá visualização ao site dos franceses. Então, quem não conhece acaba entrando para se inscrever e procura conhecer. O formulário é aberto para todos os brasileiros que jogam a Virtual Regatta (já estão registrados e com barco), e nós passamos o link. Preenchendo o formulário de inscrição, a pessoa já entra no grupo de Whatsapp oficial do evento. Então, ele vai receber o Aviso de Regata , terá a relação das baterias — porque cada bateria, nas regatas personalizadas, a gente só consegue abrir para vinte participantes. Contudo, muitas vezes, a gente tem muito mais do que esse número de inscritos, então abrimos mais baterias.

Como isso é resolvido esse excesso de inscritos?

Kunze – A gente se separa por baterias e cada organizador da CR, por exemplo, tem que estar em uma bateria. Este é responsável por abrir a regata e passar para a CR a senha dessa regata. A gente posta essa senha no grupo de Whatsapp e aí o jogador tem três minutos para entrar na sua bateria. Parece pouco tempo, mas no final você percebe que dá tempo.

Alberto – Já no site Virtual Regatta Brasil a gente organiza através de nosso grupo de Whatsapp. É um instrumento de comunicação com o velejador. Então, através do Whatsapp a gente comunica: olha, vai ter uma regata daqui a duas semanas, etapa tal, façam a inscrição. Este é um campeonato que corre somente para as pessoas que estão em contato com a gente.

Para participar a pessoa tem que ser filiada também a um clube de vela? E para participar do mundial?

Kunze – Não, basta ser jogador da Virtual Regatta. Nós temos jogadores que nunca velejaram na vida. Tem alguns que nunca subiram num barco.

Alberto – É, tem alguns mineiros que nunca subiram num barco (risos),

Kunze – Importante acrescentar que o Gabriel Solano, como ele é um dos tops do mundo, tem contato com outros jogadores de vários países. Então como o nível do Brasil subiu ultimamente, através dele a gente sempre está convidando algum jogador de outro país, também dos tops, para participar das regatas da Virtual Regatta Brasil. A gente acrescentou um português, o Chico Melo, um velejador profissional (foi terceiro nas olimpíadas virtuais), pela questão do idioma, e tem outra coisa, o nosso grupo da Virtual Regatta do Brasil está grande e de alto nível, então os próprios estrangeiros querem participar conosco, colocar seus barcos virtuais lado a lado conosco para também melhorar o nível deles.

Alberto – Assim como nós temos os nossos campeonatos aqui na Virtual Regatta Brasil, outros países também têm suas equipes e os grupos. Então você pode encontrar igualmente muitos italianos jogando, espanhóis, franceses, ingleses, gente do mundo inteiro. Dependendo do horário que você entra no site oficial Virtual Regatta, vai jogar com japoneses, neozelandeses ou australianos, pessoal que está do outro lado do planeta. No planeta inteiro tem jogadores organizados em seus países, e com seus campeonatos. E temos o ponto de encontro, como o Kunze falou, que é o Mundial. As regatas do Mundial são os campeonatos organizados pela própria Virtual Regatta. Então todos se inscrevem, e dependendo dos resultados e pontuações, é feita uma seleção inicial. Em seguida, eles fazem uma seletiva especial, onde entram os 500 melhores, se não me engano.

Alberto – Dali eles tiram quarenta jogadores para as semifinais, depois selecionam vinte, e então chega a final. A grande final reúne apenas dez jogadores.

Kunze – O Solano foi o 11º num Mundial. Tivemos no final de 2023 o Mundial e as Olimpíadas Virtuais. O Mundial foi à parte. O José Godinho ficou em quarto lugar nas Olimpíadas. Chegou a ir à Medal Race, mas nesta não foi tão bem e terminou em quarto. As Olimpíadas foram um evento envolvendo convidados e classificados, evento presencial. As Olimpíadas de Jogos Virtuais utilizou a Virtual Regatta inshore como a plataforma do evento.

O que é o Sailranks?

Kunze – É uma plataforma de fazer resultados. Como se fosse uma planilha de Excel.

Vocês mesmo criam essa planilha?

Kunze – A gente cria um login, que é então autorizado por quem administra o Sailrank.

Alberto – O SailRank é um aplicativo que cria súmulas de regatas. Ali a gente insere o nome do jogador, e a cada regata, a gente coloca o resultado daquele jogador. Então, o próprio aplicativo faz a correção dos pontos, leva em conta quesitos de desempate (porque às vezes você tem pontuação igual, em várias regatas, e ele aplica os quesitos de desempate conforme as regras). É uma plataforma que a gente usa para disponibilizar rapidamente os resultados para os jogadores. Para ver os resultados é só seguir um link.

Kunze – O link é o mesmo para todo o evento, entre uma regata e outra, a gente vai atualizando os resultados, então as regatas são muito dinâmicas, cada regata dura em média dez minutos. O SailRank calcula a média de pontos das regatas, e mesmo a gente fazendo de quatro a seis regatas, dentro de uma hora o competidor já tem o resultado, sabe a classificação, quem precisará marcar, com quem ele precisa tomar cuidado. No resultado final, já tem a pontuação.

Alberto – E quando termina vai todo mundo para o Whatsapp, para fazer a resenha, para brincar um com o outro!

Além de levar como um hobby, o pessoal se compromete?

Alberto – Em cada campeonato desses, a gente tem em média de seis a oito pessoas envolvidas na organização. E quando a gente chega ao final, que normalmente são três dias de campeonato, no último dia nós temos as finais, que é a Flotilha Prata, e depois a Flotilha Ouro. A Flotilha Ouro é o grupo dos finalistas, que estarão indo para disputar o título. E aí a gente faz a transmissão ao vivo no Youtube, nós já temos até um narrador oficial. Vale a pena assistir, porque a turma que faz a transmissão é muito boa! Eu mesmo às vezes participo, ajudando o Velho Capitão (é o nome do barco de nosso narrador oficial). Na verdade, o narrador e dono do Velho Capitão é um almirante, ele faz parte do grupo, compete, ajuda, e é um locutor nato!

Kunze – Sobre o início a história de transmissão, eu me recordo que ouve uma época da pandemia que o pessoal pedia fotos, vídeos da turma que estava participando. Eu estava trabalhando e tomando um refrigerante, mandei a foto do refrigerante do lado da tela do jogo, outros que estavam em casa à vontade idem, e os participantes que estavam em escritórios, engravatados, enviaram suas fotos do mesmo jeito, situação inusitada. Foi então que o almirante, Gilberto Lorenzo, fez um vídeo vestindo roupa de velejador, passando protetor solar, e deixou uma cumbuca de água com sal ao lado. Ao longo da regata, ficava jogando a água salgada no rosto, com ventilador ligado, tudo para simular como se estivesse em alto-mar. Foi muito bacana (muitos risos). E um dia ele se ofereceu: “Se quiserem gravar, eu posso narrar”. E foi melhorando o nível de narração ao longo do tempo, e hoje é muito bom!

Alberto – Ele é profissional! É um radialista nato! (muitos risos).

Kunze – E veleja também. Às vezes a gente se preocupa, quando ele vai para a Flotilha Ouro, mas tem que narrar!

Alberto – Então, consciente de sua boa narração, ele diz que não vai participar da última etapa porque precisa narrar o jogo (quer abrir mão da regata para fazer a narração).

Alberto – Outra pessoa de destaque é o Marcelo Mariano, também velejador, mora em São Vicente (SP), onde tem um projeto social em que dá aulas de vela para jovens. Ele é colaborador nosso da CR, e quando o almirante quer abrir mão de disputar a Flotilha Ouro, ele diz “Não, almirante, eu é que vou organizar a parte da transmissão”. O Marcelo entrou de cabeça nisso, descobriu o programa necessário para fazer a transmissão do jogo, depois foi atrás de montar o esquema da transmissão, de montar o site. Foi ele quem organizou o site, então o Marcelo ficou encarregado das mídias. Assim, o grupo foi se ajeitando, cada um com seu talento, com sua disponibilidade. E nos tornamos grandes amigos virtuais, a grande maioria nem se conhece, nunca se encontrou presencialmente, mas somos todos amigos. E isso vai gerando essas coincidências da vida. De repente a gente passa por acaso numa cidade onde mora um dos afiliados, então vamos visitar, nos conhecer, realizar um encontro presencial. Eu digo para todo mundo: “Encontrou no presencial, tem de tirar foto!”.

Jogar regatas virtuais compensa no mundo real?

Kunze – Sim, o jogo ajuda muito na vela real também.

Alberto – É um verdadeiro simulador, mais do que um jogo.

Kunze – As regras são iguais.

Alberto – E como são muitos jogadores, cada um está cuidando de seu barco, não tem como o jogo interferir nas regatas, são as decisões de cada jogador que valem. O jogo oferece a plataforma com o cenário da cidade escolhida, são várias raias pelo mundo, inclusive tem raia do Rio de Janeiro. Todos os países mais fortes da vela têm uma raia dentro do jogo da Virtual Regatta. E temos também as condições de vento. Todas as regras estão presentes, as penalizações, infrações, são todas controladas pelo jogo, baseadas nas regras da vela real.

Kunze – As características dos barcos são exatamente as mesmas da vela real, o Nacra é um barco planador, desenvolve no jogo as mesmas velocidades, os ângulos, tudo bate.

Alberto – Por exemplo, o ângulo de orça segue o comportamento do barco real.

Kunze – Então o jogo acaba sendo de grande ajuda para a vela real. Vamos dizer, numa regata real, de repente numa situação complicada você pensa: “Eu já vi isso!” A gente tem que ter um raciocínio muito mais rápido nas virtuais, porque as regatas são muito mais dinâmicas cada uma delas leva dez minutos. Daí, como dizia, quando você chega na regata real, você pensa: “Opa, já vi essa situação na vela virtual”, então é melhor eu fazer assim ou assado, conforme deu certo na vela virtual! E funciona!

Alberto - Você enxerga na raia a layline, as boias, e vê direitinho a rajada do vento chegando.

 

Vídeo da final da Olympic Esports Series, em 2023, que teve a participação dos brasileiros Gabriel Solano e José Godinho

 

Até as rajadas existem nas regatas virtuais?

Kunze – A água fica escura, como uma mancha do vento chegando, igual ao mundo real.

Alberto – E os barcos deixam um rastro de vento sujo, então percebe-se a área de marcação do vento sujo, e quando você entra naquela área de interferência, seu barco perde a velocidade, você diminui a orça, aí entra toda a estratégia de marcar o outro barco, dar vento sujo nele para diminuir a velocidade. A estratégia que você desenvolve ali no jogo pode ser transferida para a vida real.

Alberto – Em caso de quebra de regra, o jogo penaliza.

Então não acontecem protestos, discussões?

Alberto – Esta é a grande vantagem, a gente se livra desse abacaxi. Cruzou a linha, você tem o resultado em milissegundos, não cabem protestos ou discussões.

Kunze – Então, cabe protesto? Somente na hipótese de problemas na largada. Ou seja, se alguém abriu a regata, era para dar a largada e cai (o sinal) da Internet, aí perdemos o controle da regata. A gente tem um baita cuidado quando abre a regata. Antes de passar a senha, temos de manter duas pessoas da organização na regata, porque, se uma cai (da Internet), a largada vai ficar para a segunda (pessoa) —como a gente está se falando, diz: “Segura um pouquinho”. Mas depois que deu a largada, são as regras do jogo o tempo todo.

Alberto – As quebras e falhas que a gente tem na vela real, levamos na boa com o que acontece na Internet. Por exemplo, às vezes eu estou jogando e o meu sinal cai. Então eu saio da regata, considero como se tivesse quebrado um mastro, como se tivesse rasgado uma vela, acidentes que acontecem. Se o jogo travou, a internet parou, acabou a eletricidade onde a pessoa estava, paciência, é passível de acontecer. E não tem protesto!

Kunze – Eu sou um adepto do celular, sempre jogo no meu celular, tem gente que prefere o iPad porque tem uma tela um pouco maior. Outro jogador, o Almyr, por exemplo, a gente sabe que ele passa a tela do celular para a TV, então ele fica participando da regata numa tela de 50 polegadas. E tem gente que joga no computador. Sempre antes de um evento, por exemplo, eu jogo fora do wi-fi, porque se der algum problema de queda de luz, o wi-fi vai pifar, mas eu estarei conectado pelo 4G. Então, jogo no 4G do próprio celular, que é mais seguro. É preciso estar em algum lugar que a internet funcione, justamente para não ter esse problema. Mas eu me organizo para não estar em viagem, não estar na casa de alguém ou fora de casa. Ficar sempre em algum lugar que a minha rede seja boa.

Alberto – O preparativo do barco no mundo real equivale ao preparativo da Internet no virtual. Teve um fato engraçado. Em 2020, resolvi participar da Santos–Rio. No dia que eu estava levando o barco para Santos, acontecia um campeonato. Então pensei “poxa, vou estar no mar justamente na hora do jogo, desse jeito vou ficar prejudicado! Mas como a gente estava fazendo navegação costeira e naquela hora eu estava ao largo de Ubatuba, indo para Ilhabela, pensei “eu vou conectar e fico navegando por aqui”. Assim, eu participei de um campeonato virtual a bordo do veleiro. O sinal não estava bom, mas deu para fazer a brincadeira.

Kunze (para o Alberto) – Teve, também, uma que você participou de um navio.

Alberto – É verdade, estava fazendo um cruzeiro e disse: “Não posso deixar de jogar, não!”. A esposa chamando: “Tá na hora do jantar”; eu: “Calma, calma, que eu estou jogando, já vou descer”. E ela: “A gente vai perder o jantar, tem horário para entrar no restaurante”; respondo: “Eu sei, mas já está quase”! (risos).

Estive assistindo ao campeonato mundial de F1 virtual, tem muita gente com patrocínios, jogadas de marketing, essas coisas. Existe isso no eSail também?

Kunze – Sim. O que acontece: para agregar mais velejadores, a gente começou também a tentar buscar patrocinadores. As inscrições são gratuitas, mas a gente tem um custo para enviar os prêmios, os brindes, tem um custo de transmissão, então começamos a buscar patrocinadores, e tudo o que a gente traz, transforma em benefícios para o jogo. Hoje a gente tem a NautiSpecial (empresa de produtos de limpeza náuticos), e fornecem kits para as regatas. Os kits são sorteados para aqueles que participam de, pelo menos, quatro regatas no evento. A Mitsubishi Motors também é uma patrocinadora nossa, fornece bonés; temos a Embraco de Santos. E para estes patrocinadores é uma grande vitrine, porque a gente está cem por cento na Internet e somos conhecidos no mundo todo.