Amazônia a vela

Cruzeiro em flotilha no Rio Amazonas: experiência única, tornada possível pelo BRally Amazon.

BRally Amazon

edição 2023

Por Roberto Negraes - Fotos Divulgação BRally Amazon

Uma iniciativa de sucesso só pode crescer!

O BRally, evento criado em 2012 por Silvio Ramos, do veleiro Matajusi, tem como objetivo a inclusão da costa brasileira na rota dos circum-navegadores. Em 2023, nada menos que 150 barcos de bandeiras estrangeiras estão velejando pelo litoral brasileiro. Alguns deles formarão uma flotilha a partir de Ubatuba (SP), até chegarem a Belém, no Pará, onde iniciarão o que é a “cereja do bolo” desta viagem, o BRally Amazon: uma navegação de 500 milhas (pouco menos de 1.000 km), até o destino final, Alter do Chão, em plena Amazônia.

A partir de Ubatuba, percorrerão as costas leste e norte juntando-se à flotilha brasileira do Farofeno, e participarão de vários eventos náuticos ao longo da viagem, alguns dos quais criados especialmente para incentivar os velejadores a navegarem pelo litoral do Brasil.

Com a edição 2023 agendada para acontecer entre o fim de outubro e o início de novembro, o BRally Amazon é uma aventura de descoberta realizada por veleiros de cruzeiro oceânico, ao longo de 22 dias, desde o Delta, até o coração da Amazônia, desvendando os segredos do rio, da floresta e do seu povo.

No evento inaugural, em 2021, mais de uma dezena de embarcações (inclusive do exterior) percorreram essas 500 milhas pelos rios amazônicos. O sucesso foi garantido pela ótima organização e segurança, o que fez o rali ser recomendado nacional e internacionalmente pelos participantes.

O BRally e o Farofeno oferecem uma mistura de navegação em flotilha e tempo livre para explorar a vasta costa brasileira. O ritmo do passeio permite que os barcos permaneçam unidos e desfrutem de atividades em terra, em grupo ou na privacidade das tripulações.

A rota do BRally Amazon

Na capital do Pará, os participantes poderão conhecer vários aspectos culturais, dos quais merece atenção, particularmente, o capítulo dedicado à gastronomia local. Não por acaso, a Unesco concedeu a Belém o título de Cidade Criativa da Gastronomia!

Em seguida, os veleiros seguirão pelo chamado Golfão do Marajó. Durante o percurso, será possível visitar comunidades, vilarejos e pequenas cidades, como a comunidade de Japiim Grande, Breves e os Estreitos de Breves, um complexo sistema de canais que compõem grande parte das aproximadamente 2.500 ilhas que formam o Arquipélago do Marajó. Neste trecho, os participantes poderão ter contato com os ribeirinhos, visitar suas vilas e experimentar a acolhida extraordinariamente generosa oferecida em suas casas e comunidades.

Em seguida, a flotilha passará por Gurupá, Ilha das Velhas, Almeirim e Prainha, até chegar a Monte Alegre, onde se pode visitar o Parque Estadual, conhecido por suas cavernas e pinturas rupestres pré-históricas, os vestígios arqueológicos mais antigos dos primeiros humanos a habitar a Amazônia, cerca de 11.200 a.C..

O último pernoite será no Furo Tapará, e então a flotilha chegará a Alter do Chão, uma região conhecida como o Caribe Amazônico, devido às praias banhadas pelas águas esverdeadas do Rio Tapajós. É nas margens deste rio que a aventura termina, em 18 de novembro.

Prazos e informações gerais

Inscrições: no site do projeto, https://brallyamazon.com/br .

Datas do BRally Amazon 2023: início no dia 28 de outubro, em Belém (PA); encerramento no dia 18 de novembro, em Alter do Chão (PA).

Quem pode se inscrever: é possível inscrever-se individualmente, mesmo não tendo barco, pois haverá vagas disponíveis em veleiros; assim, mesmo quem não possuir um barco poderá participar. O BRally Amazon é um evento exclusivo para um mínimo de 10 até 30 barcos.

Requisitos para os barcos: comprimento mínimo de 9,14 m (30 pés), com motor com capacidade para mover o barco a uma velocidade mínima de 5 nós, para que a flotilha possa navegar em conjunto e os barcos possam transportar uma quantidade adequada de água e combustível para o percurso de 500 milhas; todos os barcos devem ter equipamentos de segurança e comunicação.

O que é oferecido: a flotilha será acompanhada por um prático, capitão bem familiarizado com a rota e pelo menos um segurança armado; e haverá eventos culturais e gastronômicos criados especialmente para esta aventura.

Porque participar? Navegar em flotilha traz grande segurança e tranquilidade. Pela experiência no BRally anterior, cria-se igualmente um ótimo clima de camaradagem e amizade entre as pessoas, além da diversão de velejar em grupo.

Quanto custa participar? Na edição de 2023, o Brally Amazon funcionará como um cruzeiro em companhia (flotilha) sem taxas, apenas dividindo os custos da flotilha, se houverem. Cada participante arcará com seus próprios custos para atividades e experiências turísticas opcionais que possam estar disponíveis ao longo da rota.

A origem do BRally

Silvio Ramos viveu boa parte de sua vida profissional nos Estados Unidos. Retornando ao Brasil, descobriu o prazer de velejar em barcos oceânicos, o que resultou em uma volta ao mundo, levando o escritório a bordo de seu veleiro, o Matajusi. Assim, graças aos equipamentos de comunicação, pode dar continuidade a seus negócios, com sucesso, ao longo da circum-navegação.

Ao retornar ao Brasil, Silvio debruçou-se sobre um problema: por que tão poucos dos milhares de veleiros cruzando os mares do planeta raramente ou sequer visitam o Brasil, que tem costa extensa e um dos litorais mais belos do mundo? Logo descobriu as causas, a começar pela falta de segurança e despreparo da burocracia, além da inadequação das leis marítimas para receber barcos particulares, entre outros detalhes.

Então, decidido a tornar nosso país um destino turístico, estreou, em 2012, o projeto BRally —uma caravana de barcos, apoiados pela Marinha e por seguranças, para navegar pelo Rio Amazonas, em meio à selva mais famosa do mundo. Pode-se dizer que o primeiro BRally foi uma aventura de descoberta, conhecendo os segredos do rio, da floresta e do seu povo.

Silvio Ramos, idealizador do BRally, com ribeirinhos em uma das escalas em águas amazônicas

Reunião em Ubatuba para viagem a Belém

Em 2023, o BRally começará em Ubatuba (SP) e subirá toda a costa brasileira até chegar a Belém, na foz do Rio Amazonas, onde todos os participantes, inclusive os de bandeira de outros países, se reunirão para o início da tão aguardada excursão pelo grande rio.

O Rio Amazonas

A primeira descrição geográfico-histórica do Rio Amazonas é do padre jesuíta João Daniel (1722-1776), cronista da Companhia de Jesus, autor da obra enciclopédica chamada Tesouro Descoberto no Máximo Rio Amazonas, no qual narra aspectos do rio, da natureza e dos homens da Amazônia. Ele escreveu: “É sem dúvida o Amazonas não apenas um dos mais longos do mundo, como também o de maior volume de água. Era chamado com razão pelos naturais de ‘mar branco, paraná petinga’”.

Poucos sabem, mas foi um português chamado Diogo Nunes, arregimentado no exército espanhol, quem primeiro desceu o Rio Amazonas em solitário, vindo da Cordilheira dos Andes, em 1538, bem antes dos conquistadores espanhóis Francisco Pizarro, Francisco de Orellana e Lope de Aguirre.

Problemas comuns que todo velejador deve conhecer antes de navegar no Amazonas

Silvio Ramos listou os cinco problemas (ou desafios) mais comuns que os participantes do BRally poderão enfrentar nos rios da Amazônia, de modo que possam se preparar para a viagem. São eles:

1 - Correntes de maré

Como todos sabemos, entre todos os rios do mundo, o de maior vazão é o Amazonas, que lança no Oceano Atlântico até 270.000 m³/s de água no período das chuvas. Uma descarga tão forte, que suas águas avançam até cerca de 150 km da costa mar afora.

Na foz desse grande rio, temos então a presença das correntes de maré, que nesta região mudam de direção a cada seis horas, aproximadamente, com amplitudes de maré superiores a 3 metros!

Ao entrar na região pela foz do Rio Pará, é possível aproveitar as marés junto com o vento, mas, considerando o ciclo de seis horas, haverá correntes a favor e contra durante as cem primeiras milhas, até a cidade de Breves, a mais populosa de Marajó. A partir daí, começa a navegação contra a corrente ao longo dos estreitos de Breves — um sistema de canais responsável pela maior parte das quase 2.000 ilhas do arquipélago de Marajó — até entrar no Rio Amazonas propriamente dito, enfrentando correntes de até 4 nós, dependendo da lua e das condições gerais de navegação.

2 - Bancos de areia

Junto com a água, o Rio Amazonas traz em sua calha uma quantidade imensa de sedimentos que podem formar bancos de areia em permanente deslocamento, o que faz com que as cartas náuticas da região, tanto as de papel quanto as digitais, não sejam precisas. Por isso, é altamente recomendado ter um prático local experiente para manter o barco a salvo pela rota mais adequada.

3 - Árvores, troncos e ilhas flutuantes

Nos períodos de cheia, as águas do Amazonas invadem a floresta da planície, trazendo para o leito do rio muitos troncos de árvores ou até mesmo árvores inteiras; e em decorrência disto, o navegante poderá encontrar muita vegetação flutuante.

Ao fundear o barco, é preciso atenção especial com os aguapés (Eichhornia crassipes), plantas aquáticas capazes de formar colônias do tamanho de ilhas flutuantes, que podem enroscar no barco durante a noite. Por isso, observe o fluxo do rio e evite aproximar-se desse tipo de vegetação.

4 - Tempestades tropicais

A Floresta Amazônica é a maior floresta equatorial do planeta e, portanto, sujeita ao clima quente e úmido, de pouca variação sazonal e com mais de 200 mm de chuvas por ano. Isto, aliado ao fato de que o baixo Rio Amazonas fica em uma região de baixa pressão atmosférica, faz com que tempestades tropicais com chuvas e ventos muito fortes variando entre 32 e 62 nós sejam frequentes, durando de 30 a 40 minutos e tirando a visibilidade do navegador. Atenção!

5 - Falta de apoio logístico

Fora das grandes cidades, como Belém, Manaus ou Santarém, falta estrutura logística. Assim, é preciso estar preparado para uma viagem sem escalas, porque não é em qualquer cidade que há, por exemplo, peças de reposição para o motor ou para o barco de um modo geral, e até mesmo combustível. Encontram-se apenas itens básicos de alimentação e medicamentos, mas não bons mecânicos ou coisas mais complexas.

Velejando em flotilha

O BRally foi criado para quem sempre sonhou em navegar pelo Rio Amazonas. Realizada em flotilha, essa excursão oferece estrutura e comodidades difíceis de ter quando se navega só, como prático, segurança privada, sem contar os eventos culturais e gastronômicos criados especialmente para esta aventura.

Além disso, os organizadores estarão sempre à disposição para auxiliar o ingresso dos veleiros estrangeiros no país, assim como na obtenção de peças de reposição e reparos, ou simplesmente, na indicação de bons restaurantes.